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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Como comecei a ser atendido pelo SUS num hospital universitário, referencia no Brasil


Bom as algumas pessoas reclamam que já buscaram o SUS e que não conseguiram nem sequer acompanhamento do problema.
 
Pois comigo não seria diferente! Eu penei muito até cair no SUS e ter atendimento num ótimo hospital universitário localizado em Santa Maria no Rio Grande do Sul!

Pois bem, tudo começou aos quinze anos de idade com o surgimento de uma pequena mancha que mais parecia micose na minha perna esquerda. Usei pomadas para micose e logo depois quando a psoríase se tornou violenta e meu corpo coçava muito e parecia catapora, aí minha mãe me levou num médico de minha cidade que cobrou 100 reais pela consulta, fora os medicamentos. Me receitou remédios e pomadas para micose dizendo que era candidíase!

Ok, tomei os remédios, mas a alergia ficou 3x pior e eu já não me agüentava mais. Meu pai, que morava em Santa Maria e trabalhava lá me levou então num posto do SUS e aquela cidade, é uma cidade universitária, ou seja, cheia de médicos do SUS e com diversos residentes.

Fui atendido num posto de saúde e encaminhado para um médico, Dr. Farret, ele me diagnosticou com psoríase e me receitou pomada, sabonete e xampu especiais, contudo caros demais e sem muita eficácia.

Fiquei em casa e problema piorou. Meu pai então decidiu me levar na tão famosa Dra. Shirley Matte, uma médica considerada uma das melhores do estado e uma única consulta custava 300 reais. Ok. Fui bem atendido lá, ela me examinou, perguntou sobre tudo: alimentação, se alguém da família tinha, super generosa e atenciosa.

Me receitou dipropionatode betametasona (o,64 mg) + ácido salicílico (30 mg) e recomendou banhos de sol antes das 10 da manhã e depois das 3 da tarde, porque minha pele era muito branca e sensível.

Usei essa pomada e fiquei tomando banho de sol até os 20 anos de idade. Comecei o tratamento com 15 e fui aos 20 usando essa pomada que é corticóide e mais os banhos de sol recomendados por essa médica e nunca mais voltei lá, pois não tínhamos condições para pagar uma médica tão cara, sem falar dos medicamentos.

Tudo andava bem até aos 20 anos na chegada do inverno, que para mim foi um inferno, a psoríase começar a aumentar de forma a se formar uma espécie de camada espessa e grossa. Sem falar que estávamos desconfiados que nós, a família toda, estávamos com sarna, pois nossa cadela havia entrado no cio e com isso diversos cachorros vieram e ela além de ter pegado cria pegou sarna! 

E sarna se espalha pelo ar, sem falar que minha irmã sempre passava a mão na cadela e isso se disseminou dentro de pouco tempo em nossa casa.
Até minha avó que detestava nossa cadela e que a afugentava pegou sarna e à noite se queixava que forte coceira, sem falar que ficava cheia de feridas nos braços porque se coçava a noite.

A psoríase também não ajudou e eu continuava usando a pomada com corticóide mais glicerina que a deixava ótima para passar na pele, não era a pomada original e sim manipulada. Contudo a psoríase se tornou grossa e espessa, estava não fora, mas agora dentro da pele e era como uma infecção.
Eu já não estava mais bem, tanto que meu pai que não é de se chocar com tudo, ficou apavorado, juntou uma grana e voltei a mesma médica que havia me atendido quando tinha 15 anos de idade e mais 300 reais a consulta.

Cheguei lá ela me examinou, foi atenciosa, nada a reclamar de tão excelente médica. Me receitou a medicação Acitretina, mas me explicou que como eu não tinha condições de comprar eu deveria recorrer ao SUS, e fazer uma centena de exames, protocolos e tirar muitas fotos e encaminhar pelo posto de minha cidade até Porto Alegre (capital do RS).

Comecei indo no posto de minha cidade pedindo a requisição de exames para o médico, fiz os exames, fiz ainda o exame de AIDS (SIDA) que era essencial, mas esse demorava cerca de 1 mês para ficar pronto, pois era mandado para Porto Alegre, uma vez que nossa cidade não tem recursos e nem tecnologia para tal procedimento.

Como eu deveria esperar um mês para o exame de SIDA, sem falar que demoraria para arrumar os papéis, sem falar ainda que meus pais deveriam preencher um formulário, pois eu não tinha ainda 21 anos, ou seja, não era totalmente livre da tutela deles... era melhor eu esperar um mês.

Na lista do protocolo havia uma medicação chamada Metotrexato, que servia apenas para avaliação e observação e havia uma receita. A Doutora me explicou que era apenas para eu conseguir a outra medicação. Mas como havia certinho a dosagem que eu deveria tomar e meus exames de sangue estavam ótimos, sem falar que havia pesquisado sobre tal medicamento.

Decide me auto-medicar, tomando Metotrexato por conta e todo mês me comprometi a mim mesmo fazer exames de sangue para que não me prejudicasse o fígado, pois essa medicação é muito invasiva e prejudica o fígado quando usada por longos períodos ou de forma errada.

Contudo peguei um sol forte ao sair de bicicleta ao centro de minha cidade e na volta meu corpo parecia que iria explodir de tantas bolhas d’água. Minha mãe me levou num dermatologista daqui da cidade, que me deu remédios como um corticóide, um remédio pra coceira e uma pomada.


Mas eu estava mal, e minha mãe me levou no posto. Eu não tinha vontade de ficar em pé, muito menos vivo... Chorei muito, meu corpo estava todo arruinado, como o de uma pessoa que tem um caso grave de epidermólise bolhosa.

Mas enfim, no posto o médico foi tão inútil quanto uma pedra na estrada e só me deu uma injeção pra coceira e me mandou embora e disse:

- Deve procurar seu dermatologista e falar com ele. Eu não posso fazer nada.

E minha mãe havia ligado para o médico que ficava na cidade, mas ele estava viajando e não atendeu. Sem falar que não temos condições para pagar bons dermatologistas (a merda do capitalismo é isso, pobre é podre!).

Aí pedi se ele podia me encaminhar para o Hospital Universitário de Santa Maria, aqui no Rio Grande do Sul, o hospital referência do SUS mais próximo da minha cidade, fica à duas horas de viagem. 

Aí simplesmente ele disse:

- Não posso, fale com seu dermatologista ou busque um.

Ai, eu quase morrendo... Cheguei em casa chorei, pedi a Deus que me levasse, eu não queria mais sofrer, eu preferia morrer do que sofrer mais do que sofri em toda vida. Transexualidade, psoríase, preconceito, homofobia, eu só queria paz.

Mas aí dormi... E no dia seguinte meu pai que morava na cidade de Santa Maria ligou pra minha mãe e ela contou, falou comigo e disse que era pra eu pegar minhas coisas e pegar um ônibus que ele mesmo me levaria no Pronto-Atendimento do HUSM (sigla que significa: Hospital Universitário de Santa Maria). Peguei o intermunicipal às 3 da tarde.

E cheguei lá, estava um pouco melhor, mas dentro da minha calça as bolhas estouravam, eu me sentia mal, sem fome e desanimado. 


Meu pai me levou no Pronto-Atendimento do HUSM e lá fui atendido por uma médica residente e seu professor e Doutor em Medicina. E eles detectaram que foi reação do medicamento à exposição ao sol, eu já sabia disso, mas precisava ser tratado. Lá estive 15 dias, tomei corticóide que abaixou meu sistema imunológico e tirou aquelas escamas terríveis da psoríase, bem como em auxilio ao tratamento das bolhas.

Contudo descobri o que eu já sabia, que estava com sarna junto com a psoríase. Sei que foi da nossa cadela, como eu postei aqui no blog. Ela pegou sarna quando entrou no cio e algum cachorro infestado passou pra ela e ela passou sem querer pra nós.

Os médicos do HUSM diziam:

Não sarna de cachorro não pega! Podem ficar com sua cadelinha.

Me surpreendi, pois a sabedoria popular é tão sabia quanto qualquer médico com diploma estampado na parede. E depois que saí do hospital, descobri pela internet que a sarna sarcóptica pega sim, é uma zoonose.

No total, sofri muito no hospital, os lençóis cheios de sangue e líquido das bolhas que estouravam. Fiquei no luxo, fui muito bem tratado pelos médicos e não tenho o que reclamar, já que fiquei num quarto isolado devido ao fato (eles não me disseram isso, mas descobri pela internet isso depois) de que com o corticóide o sistema imunológico abaixaria tanto que uma simples bactéria hospitalar me mataria em segundos, bom bactérias de hospital já são medonhas, imagine em alguém quase sem sistema de defesa! Tomei por mais de 15 dias Prednisona, corticóide popular e muito eficaz.


Meu rosto inchou, me senti um monstro, sem falar que o residente que estava no lugar do outro médico residente que era o responsável por mim não soube me explicar porque eu estava com o rosto parecendo o corcunda de Notre Dame, esse residente ficou substituindo o médico residente responsável por mim num domingo e foi o ultimo dele, pois não sei se foi a minha face que o assustou ou a minha ira e decepção com tamanha inércia.
 

Pra piorar não podia fazer a barba. Mais um motivo para querer morrer.


Mas enfim tudo acabou bem e eu continuei o tratamento à distancia até agora no hospital sendo atendido na área de dermatologia do hospital.


Contudo comecei a fazer depois injeções subcutâneas de Metotrexato de 15 ml que conseguiram controlar a psoríase. As minhas espinhas sumiram, meu rosto limpou.


Contudo não limpou toda a minha pele, é um tratamento e não uma cura. Eu ainda tenho lesões e me incomodam muito, sem contar o fato que meu sistema imunológico além de ser debilitado por conta da psoríase, fica mais ainda com o uso de Metotrexato!


Hoje todas as sextas viajo 2 horas até o hospital, faço a injeção de Metotrexato. E de 3 em 3 meses faço exames de sangue e depois tenho consulta com o médico responsável e os residentes.

Bom é isso, se alguém achou que foi fácil eu ter chegado até o SUS se enganou. Foi muita burocracia, negligência, despreparo de certos médicos, falta de recursos e...

Eu preciso falar mais?

O lado bom é que estou sendo tratado agora!