Bom as algumas pessoas reclamam que já buscaram o SUS e que não
conseguiram nem sequer acompanhamento do problema.
Pois comigo não seria diferente! Eu penei muito até cair no SUS e ter
atendimento num ótimo hospital universitário localizado em Santa Maria no Rio
Grande do Sul!
Pois bem, tudo começou
aos quinze anos de idade com o surgimento de uma pequena mancha que mais parecia
micose na minha perna esquerda. Usei pomadas para micose e logo depois quando a
psoríase se tornou violenta e meu corpo coçava muito e parecia catapora, aí
minha mãe me levou num médico de minha cidade que cobrou 100 reais pela
consulta, fora os medicamentos. Me receitou remédios e pomadas para micose
dizendo que era candidíase!
Ok, tomei os remédios,
mas a alergia ficou 3x pior e eu já não me agüentava mais. Meu pai, que morava
em Santa Maria e trabalhava lá me levou então num posto do SUS e aquela cidade,
é uma cidade universitária, ou seja, cheia de médicos do SUS e com diversos
residentes.
Fui atendido num posto de
saúde e encaminhado para um médico, Dr. Farret, ele me diagnosticou com
psoríase e me receitou pomada, sabonete e xampu especiais, contudo caros demais
e sem muita eficácia.
Fiquei em casa e problema
piorou. Meu pai então decidiu me levar na tão famosa Dra. Shirley Matte, uma
médica considerada uma das melhores do estado e uma única consulta custava 300
reais. Ok. Fui bem atendido lá, ela me examinou, perguntou sobre tudo:
alimentação, se alguém da família tinha, super generosa e atenciosa.
Usei essa pomada e fiquei tomando banho
de sol até os 20 anos de idade. Comecei o tratamento com 15 e fui aos 20 usando
essa pomada que é corticóide e mais os banhos de sol recomendados por essa
médica e nunca mais voltei lá, pois não tínhamos condições para pagar uma
médica tão cara, sem falar dos medicamentos.
Tudo andava bem até aos 20 anos na
chegada do inverno, que para mim foi um inferno, a psoríase começar a aumentar
de forma a se formar uma espécie de camada espessa e grossa. Sem falar que estávamos
desconfiados que nós, a família toda, estávamos com sarna, pois nossa cadela
havia entrado no cio e com isso diversos cachorros vieram e ela além de ter
pegado cria pegou sarna!
E sarna se espalha pelo ar, sem falar que minha irmã
sempre passava a mão na cadela e isso se disseminou dentro de pouco tempo em
nossa casa.
Até minha avó que detestava nossa
cadela e que a afugentava pegou sarna e à noite se queixava que forte coceira,
sem falar que ficava cheia de feridas nos braços porque se coçava a noite.
A psoríase também não
ajudou e eu continuava usando a pomada com corticóide mais glicerina que a
deixava ótima para passar na pele, não era a pomada original e sim manipulada. Contudo
a psoríase se tornou grossa e espessa, estava não fora, mas agora dentro da
pele e era como uma infecção.
Eu já não estava mais
bem, tanto que meu pai que não é de se chocar com tudo, ficou apavorado, juntou
uma grana e voltei a mesma médica que havia me atendido quando tinha 15 anos de
idade e mais 300 reais a consulta.
Cheguei lá ela me
examinou, foi atenciosa, nada a reclamar de tão excelente médica. Me receitou a
medicação Acitretina, mas
me explicou que como eu não tinha condições de comprar eu deveria recorrer ao
SUS, e fazer uma centena de exames, protocolos e tirar muitas fotos e
encaminhar pelo posto de minha cidade até Porto Alegre (capital do RS).
Comecei indo no posto de
minha cidade pedindo a requisição de exames para o médico, fiz os exames, fiz
ainda o exame de AIDS (SIDA) que era essencial, mas esse demorava cerca de 1
mês para ficar pronto, pois era mandado para Porto Alegre, uma vez que nossa
cidade não tem recursos e nem tecnologia para tal procedimento.
Como eu deveria esperar
um mês para o exame de SIDA, sem falar que demoraria para arrumar os papéis,
sem falar ainda que meus pais deveriam preencher um formulário, pois eu não
tinha ainda 21 anos, ou seja, não era totalmente livre da tutela deles... era
melhor eu esperar um mês.
Na lista do protocolo
havia uma medicação chamada Metotrexato, que servia apenas para avaliação e
observação e havia uma receita. A Doutora me explicou que era apenas para eu
conseguir a outra medicação. Mas como havia certinho a dosagem que eu deveria
tomar e meus exames de sangue estavam ótimos, sem falar que havia pesquisado
sobre tal medicamento.
Decide me auto-medicar,
tomando Metotrexato por conta e todo mês me comprometi a mim mesmo fazer exames
de sangue para que não me prejudicasse o fígado, pois essa medicação é muito
invasiva e prejudica o fígado quando usada por longos períodos ou de forma
errada.
Contudo
peguei um sol forte ao sair de bicicleta ao centro de minha cidade e na volta
meu corpo parecia que iria explodir de tantas bolhas d’água. Minha mãe me levou
num dermatologista daqui da cidade, que me deu remédios como um corticóide, um
remédio pra coceira e uma pomada.
Mas eu estava mal, e minha mãe me levou no posto. Eu não tinha vontade de ficar
em pé, muito menos vivo... Chorei muito, meu corpo estava todo arruinado, como
o de uma pessoa que tem um caso grave de epidermólise
bolhosa.
Mas enfim,
no posto o médico foi tão inútil quanto uma pedra na estrada e só me deu uma
injeção pra coceira e me mandou embora e disse:
- Deve
procurar seu dermatologista e falar com ele. Eu não posso fazer nada.
E minha mãe
havia ligado para o médico que ficava na cidade, mas ele estava viajando e não
atendeu. Sem falar que não temos condições para pagar bons dermatologistas (a
merda do capitalismo é isso, pobre é podre!).
Aí pedi se
ele podia me encaminhar para o Hospital Universitário de Santa Maria, aqui no
Rio Grande do Sul, o hospital referência do SUS mais próximo da minha cidade,
fica à duas horas de viagem.
Aí
simplesmente ele disse:
- Não posso,
fale com seu dermatologista ou busque um.
Ai, eu quase
morrendo... Cheguei em casa chorei, pedi a Deus que me levasse, eu não queria
mais sofrer, eu preferia morrer do que sofrer mais do que sofri em toda vida.
Transexualidade, psoríase, preconceito, homofobia, eu só queria paz.
Mas aí
dormi... E no dia seguinte meu pai que morava na cidade de Santa Maria ligou
pra minha mãe e ela contou, falou comigo e disse que era pra eu pegar minhas
coisas e pegar um ônibus que ele mesmo me levaria no Pronto-Atendimento do HUSM
(sigla que significa: Hospital Universitário de Santa Maria). Peguei o
intermunicipal às 3 da tarde.
E cheguei
lá, estava um pouco melhor, mas dentro da minha calça as bolhas estouravam, eu
me sentia mal, sem fome e desanimado.
Meu pai me
levou no Pronto-Atendimento do HUSM e lá fui atendido por uma médica residente
e seu professor e Doutor em Medicina. E eles detectaram que foi reação do
medicamento à exposição ao sol, eu já sabia disso, mas precisava ser tratado.
Lá estive 15 dias, tomei corticóide que abaixou meu sistema imunológico e tirou
aquelas escamas terríveis da psoríase, bem como em auxilio ao tratamento das
bolhas.
Contudo
descobri o que eu já sabia, que estava com sarna junto com a psoríase. Sei que
foi da nossa cadela, como eu postei aqui no blog. Ela pegou sarna quando entrou
no cio e algum cachorro infestado passou pra ela e ela passou sem querer pra
nós.
Os médicos
do HUSM diziam:
Não sarna de
cachorro não pega! Podem ficar com sua cadelinha.
Me
surpreendi, pois a sabedoria popular é tão sabia quanto qualquer médico com
diploma estampado na parede. E depois que saí do hospital, descobri pela
internet que a sarna
sarcóptica pega sim, é uma zoonose.
No total,
sofri muito no hospital, os lençóis cheios de sangue e líquido das bolhas que
estouravam. Fiquei no luxo, fui muito bem tratado pelos médicos e não tenho o
que reclamar, já que fiquei num quarto isolado devido ao fato (eles não me
disseram isso, mas descobri pela internet isso depois) de que com o corticóide
o sistema imunológico abaixaria tanto que uma simples bactéria hospitalar me
mataria em segundos, bom bactérias de hospital já são medonhas, imagine em
alguém quase sem sistema de defesa! Tomei por mais de 15 dias Prednisona,
corticóide popular e muito eficaz.
Meu rosto
inchou, me senti um monstro, sem falar que o residente que estava no lugar do
outro médico residente que era o responsável por mim não soube me explicar
porque eu estava com o rosto parecendo o corcunda de Notre Dame, esse residente
ficou substituindo o médico residente responsável por mim num domingo e foi o
ultimo dele, pois não sei se foi a minha face que o assustou ou a minha ira e
decepção com tamanha inércia.
Pra piorar
não podia fazer a barba. Mais um motivo para querer morrer.
Mas enfim
tudo acabou bem e eu continuei o tratamento à distancia até agora no hospital
sendo atendido na área de dermatologia do hospital.
Contudo
comecei a fazer depois injeções subcutâneas de Metotrexato de 15 ml que
conseguiram controlar a psoríase. As minhas espinhas sumiram, meu rosto limpou.
Contudo não
limpou toda a minha pele, é um tratamento e não uma cura. Eu ainda tenho lesões
e me incomodam muito, sem contar o fato que meu sistema imunológico além de ser
debilitado por conta da psoríase, fica mais ainda com o uso de Metotrexato!
Hoje
todas as sextas viajo 2 horas até o hospital, faço a injeção de Metotrexato. E de
3 em 3 meses faço exames de sangue e depois tenho consulta com o médico responsável
e os residentes.
Bom
é isso, se alguém achou que foi fácil eu ter chegado até o SUS se enganou. Foi muita
burocracia, negligência, despreparo de certos médicos, falta de recursos e...
Eu
preciso falar mais?
O
lado bom é que estou sendo tratado agora!